Quem gosta de filmes com certeza sabe avaliar e dizer que, da década de 90 para cá, os filmes de comedia são de baixa qualidade. Foi por isso que, no ano de 2001, os estúdios de Hollywood lançaram um filme chamado “não é mais um besteirol americano”. Mas foi, apenas, mais um filme de comedia ruim.
Por que estou dizendo isso: é porque tenho encontrado no meio da igreja evangélica muita similaridade com estes filmes. A baixa qualidade nas pregações/ensino realizadas nos púlpitos e as histerias que tais discursos provocam, são idênticas aos filmes de comedia de Hollywood.
Esta deficiência nos sermões de hoje é fruto de uma distinção que ocorre principalmente em igrejas pentecostais: a distinção entre pregação e ensino.
Para um crente pentecostal, pregação de qualidade deve conter: citação de vários trechos da bíblia; sessão de revelação; falatório noutras línguas; o uso de chavões; o pregador deve sair em disparada falando freneticamente por alguns minutos e quase sem tempo para respirar; gritaria e histeria para todos os lados; e mais um monte de coisas que só alienam, mas não alimentam.
Para estes, o que aconteceu no dia em que Jonathan Edwards pregou seu sermão “pecadores na mão de um Deus irado”, em que a multidão entrou num frenesi desvairado, é referencia de “avivamento” e de pregação bem sucedida.
Já o que eles chamam de ensino é: todo o ato de ministrar a Palavra com ótima exposição do texto; o pregador expor, com calma e sobriamente, o conteúdo proposto; não se tem gritaria, ou seja, todo mundo fica quieto e prestando atenção; nos cultos de ensino não se tem sessão revelação. Resumindo: ensino, para estes, é todo o ambiente pacificado e tranqüilo, onde a histeria passa de largo.
Porém, toda esta tentativa de diferenciar as duas coisas não passa de tolice, pois tenho uma noticia a dar a todos estes que assim pensam: não existe diferença entre ensinar e pregar. Tanto na etimologia, como na prática, a execução de ambas as palavras se dão da mesma maneira. Logo não existe diferença alguma. Porque a pregação do Evangelho é o ensino da Palavra e o ensino da Palavra é a pregação do Evangelho.
Toda esta tentativa de criar um conceito se deve as seguintes coisas:
- Porque a filosofia que rege o atual sistema já está presente nos arraiais eclesiásticos: No nosso sistema atual valorizam-se as aparências – não importa se você é, o importante é parecer que é – e isso já entrou na igreja faz muito tempo. Não importa se tais manifestações são vindas de Deus, o importante é ter num culto tais manifestações.
- Porque estamos vivendo a época onde a consciência já não tem mais espaço; o que vale hoje é massificação dos sentidos: os crentes pentecostais acham que o conhecimento na Palavra promove o esfriamento da fé, por isso, existirem, em algumas igrejas, ainda, a aversão a teologia. O negocio no meio evangélico é sentir arrepios daqui, dali, para permanecer num constante estagio de infantilização da consciência.
- Porque na cabeça de muitos crentes essas manifestações são as provas mais evidentes da existência de Deus: nesta hora, contraria-se a própria Palavra: enquanto Paulo adverte aos cristãos de Corinto para que não promovessem a histeria coletiva, pois não há edificação em nada disso, hoje queremos demonstrar as pessoas que Deus existe por meio de tais praticas.
O que nós precisamos entender é que em nenhuma parte da Bíblia você encontra Jesus eufórico, cheio de discursos entusiástico; pelo contrario, nós percebemos Jesus ensinando com toda a humildade, mansidão e tranqüilidade. E todo este gesto de Jesus pode ser percebido em um de seus ensinamentos: quando ele ensinou que o Reino é das criançinhas.
Agora ensinar desse jeito não causa admiração (exterior), não promove discursos com muita gritaria (exterior), não arranca muitos chavões do publico (exterior), não cria atmosfera para a adoração-histeria (exterior); mas ensinar assim promove a construção do caráter (interior), ajuda na caminhada para a pacificação dos sentidos (interior), auxilia no crescimento da consciência (interior) e nos ajuda a re-vermos nossos princípios (interior).
O meu desejo e anseio é que voltemos o nosso olhar para Jesus, a fim de que, com sua simplicidade e observando seu modo de viver e agir, aceitemos que para Jesus, pregar é ensinar e ensinar é pregar.
Pois esta é a grande lição: o poder da pregação não deve ser medido pela capacidade de causar arrepios ou fazer uma multidão, euforicamente, glorificar a Deus. O poder da pregação é a capacidade dele transformar mentes reprováveis e cheias de complexificações, em mentes que consigam crescer na graça, no conhecimento e na simplicidade do nosso Salvador.
Se na hora da mensagem não acontecer tal lição saiba: Isso não passa de “mais um besteirol evangélico-americano”.
Nele, que foi manso e humilde enquanto pregado
Victor
1 comentários:
Ae, parabéns pelo post.
Tirou as palavras da boca de muita gente.
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