Neste breve texto me limitarei quase que totalmente a endossar e tecer breves comentários ao manifesto, Não Precisamos e Precisamos Sim, do meu amigo e pastor, Carlos Bregantim.

Preliminarmente, porém, faço questão de ressaltar que como cidadão de princípios democratas sociais e liberais considero legítimo que os grupos sociais que fazem parte da nossa sociedade, inclusive os gls, os evangélicos, o MST e o Movimento Cansei (que parece que já cansou e parou), ocupem o espaço público para reivindicarem direitos e celebrarem suas festas ocasionalmente, desde que não agridam, constranjam ou prejudiquem àqueles que não estão envolvidos no clima.

Todavia, pelos mesmos princípios sou contra as fortunas depositadas dos cofres públicos em eventos do tipo, seja a Marcha para Jesus (que pra mim, está mais para Parada do Orgulho Evangélico) ou a Parada Gay, pois entendo não se tratar de um investimento de prioridade pública. E sou a favor do direito de expressão que inclui o questionamento, a legalidade e a moralidade de se criticar a tudo e a todos que são humanos, sem ser desqualificado ou demonizado por isso.

Por Julio César

NÃO PRECISAMOS E PRECISAMOS SIM

NÃO PRECISAMOS DE MAIS UM FERIADO RELIGIOSO EM NOSSO PAÍS

Precisamos sim, fazer de cada dia, dia de serviço a Deus e às pessoas.

O Brasil já está farto de feriados e não deve se fartar mais só para políticos demagogos e oportunistas capitalizarem com o complexo de inferioridade que atinge uma multidão de evangélicos. Se fizerem um abaixo assinado a favor do feriado, proponho fazer um abaixo assinado contrário.

NÃO PRECISAMOS SER O MAIOR PAÍS EVANGELICO DO MUNDO

Precisamos sim, ser um país justo que valorize às pessoas de um modo que a imagem e semelhança do Criador seja restaurada em cada cidadão brasileiro

O maioria evangélica enraizada desde a origem dos Estados Unidos – a referência da maior parte dos evangélicos brasileiros - não minou o seu apetite bélico, imperialista, genocida; não impediu a nação de ser uma das maiores consumidoras de pornografia, narcóticos; de ter a maior população carcerária do mundo; e de ser até a década de 1960 oficialmente racializada, sob o chancela de muitos evangélicos ditos ortodoxos. Ainda hoje é notório o forte racismo latente na cultura estadunidense, sob o manto de civilidade democrática. Os cristãos reformados da África do Sul em geral também não viam problema em reproduzir o apartheid social nas suas igrejas.

NÃO PRECISAMOS DE DECLARAÇÕES PROFETICAS

Precisamos sim, de pessoas que vivam de tal modo a FÉ CRISTÃ, que resulte em transformação da realidade brasileira.

Acho que as declarações e as amarrações evangélicas estão muito fracas e frouxas, porque os demônios continuam fazendo a festa inclusive nos arraias evangélicos.

NÃO PRECISAMOS DE MARCHAS DE MILHÕES EM UM SÓ DIA

Precisamos sim, de milhões de pessoas em cada dia servindo com amor ao outro em todos os lugares deste país e do mundo.

NÃO PRECISAMOD DE “MONTANHAS DE SAL” SOB HOLOFOTES

Precisamos sim, do sal diluído de um modo que desapareça entre milhões de pessoas, mas, que o resultado seja uma sociedade com sabor de dignidade.

Como nosso país já seria diferente se os mesmos que marcham para Jesus uma vez por ano, marchassem dia-a-dia temperando e conservando o mundo da podridão com o sal do Reino.

NÃO PRECISAMOS DECLARAR QUE JESUS É DONO DE ALGO

Precisamos sim, viver desejando ser tão parecido com Ele, que fique claro para todos que pertencemos a Ele.

“Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e os que nele habitam (Salmo 24.1)”, já disse há milhares de anos Davi, rei e poeta. Será que Jesus foi destronado do poder do mundo e os evangélicos estão querendo reempossa-los. Quanta presunção!

NÃO PRECISAMOS DE COREOGRAFIAS SANTIFICADAS DE PALCO

Precisamos sim, de gente que vive no chão da vida, sob quaisquer circunstancias, o evangelho e todas as suas implicações.

De gente que viva a normalidade da vida, que saiba que o sol nasce e a chuva cai sobre justos, injustos e evangélicos, que a existência humana indiscriminadamente é de sombras e luzes, passa primavera, pelo verão, pelo outono e pelo inverno; mas que caminha pela fé no amor Pai que faz tudo convergir para nosso crescimento em amor, não por magias, feitiços e macumbas evangélicas.

NÀO PRECISAMOS IMPACTAR PELAS ESTATíSTICAS

Precisamos sim, impactar pela solidariedade, que nos impulsione a radicalizar no amor, na graça, no perdão, no serviço ao outro.

De horizontalizar no mundo o amor verticalizado pelo Pai em nós através do Filho, sua Palavra ao Mundo, Jesus Cristo.

Do que mais NÃO PRECISAMOS???

De gospel business, da “do jeito gospel de ser”, das pilantropias, do culto a estética, às relíquias institucionais e a auto-imagem.

O que de fato nós PRECISAMOS???

Evidenciarmos ao mundo o amor de Jesus pela humanidade, a despeito de nossa obscuridade, ambíguidade, ambivalência e contradição, e sermos materializadores do espírito do Evangelho.

Acrescente a esta lista os itens que você identificar após refletir sobre os movimentos evangélicos e religiosos que aconteceram hoje em nosso país.

Com responsabilidade.

Carlos Bregantim e Julio César

Link = caminho cristão