quinta-feira, 2 de julho de 2009

FELIZ DO JEITO CERTO



A maioria dos religiosos subestima a simplicidade. Com seus adereços sagrados, indumentária distinta, termos e expressões próprias, intensa dedicação em belos rituais, nobres costumes e tradições requintadas eles se perdem da sutileza Divina. Ignoram a afabilidade do Pai e o Espírito singelo do Filho.

Um dos grandes perigos dos usos e costumes é que tais são muito passíveis de sobrepor o valor das pessoas. O pragmatismo religioso tende a visar não o envolvimento de amor com os perdidos, mas, a buscar os efeitos práticos desse envolvimento. Dessa maneira muda-se o foco das pessoas para o resultado advindo delas.

E quanto mais perto dessa mentalidade, menos práticos - por mais paradoxo que possa soar - e simplórios nos tornamos ao travar uma relação interpessoal. Quando nossas atitudes convergem na única prédica que é receber algo em função de um relacionamento, nosso comportamento equivale ao retinir do metal. Não haverá amor nem doação de nossa parte à outra pessoa porque não intentamos
simplesmenteamá-la, mas conseguir, da mesma, algum resultado esperado.

Queremos ser felizes em nosso contato fraternal. E equivocadamente tentamos conseguir isso de forma hipócrita e egoísta. Afirmamos a nós mesmos - por dever à consciência cristã - que amamos o próximo, mas, bem sabemos que o verdadeiro objetivo desse "amor" é alcançar alguma coisa por essa
pseudodoação de nós mesmos à outrem. Os religiosos tentam ser felizes quando relacionam-se com os perdidos porque esperam desse contato "efetivo" uma conversão em potencial - leia-se um efeito proselitista.

E essa dissimulação relacional nao infere apenas na realidade religiosa, mas, também em todas as esferas da nossa vida. Ansiamos alcançar a felicidade às custas do próximo camuflando nossas relações com aparência de altruísmo. Nos casamos esperando que o outro nos faça feliz. Tornamo-nos amigos esperando beneficiarmo-nos da amizade. Pregamos o Evangelho esperando satisfação no proselitismo do outro. E essa atitude invade o campo da relação com Deus manifestando-se através de barganhas e mimos. Não isentamos o próprio Deus de nossa imaturidade egoísta e lançamos sobre Ele a responsabilidade de nos pagar o tempo, dinheiro e energia gastos em oração, em jejum, em campanhas, em máscaras puritanas e contribuições vazias de neutras intenções.

Queremos ser felizes. Mas, exaurimos o outro para que alcancemos tal objetivo. Sugamos o carinho, a atenção, a disposição, a lealdade, o amor, o dinheiro, a admiração, o talento e a amizade dos outros para nós mesmos de forma a nos saciarmos. O outro é apenas um meio que proporciona-nos um pouco de felicidade. Mas, jamais o afirmamos isso a eles. E com certeza muito menos a nós mesmos. Mas, é fato que, quando não temos o caráter de Cristo estabelecido em nossa personalidade, somos usurpadores e impostores que valem-se de qualquer coisa e de todos para que sintamo-nos felizes. E, então, tornamo-nos seres complexos, cheios de dissimulação, de omissões e mascarados. Perdemos a simplicidade de amar somente.

E por isso não somos de fato felizes. Primeiro porque Cristo não habita plena e integralmente em nós. Depois porque não podemos ser felizes esperando que isso venha do próximo. Como se fosse obrigação dele nos fazer feliz por ser nosso amigo, nossa esposa ou eposo, nosso pai ou mãe. Só aprenderemos a felicidade quando percebermos que é quando despojamo-nos pelo próximo que somos "mais que felizes".

Seremos felizes quando conseguirmos inverter nosso papel egoísta nas relações com o próximo. E ao invés de esperar que ele nos faça feliz, faze-lo feliz primeiro. E tornar esse o objetivo majoritário de qualquer relação fraternal, conjugal... social. Fazer o outro feliz sem esperar que o mesmo tenha a mesma concepção que você. E, portanto, não ter expectativas de receber nada em troca.

Evangelize pensando em fazer o perdido feliz com as boas novas de Cristo. Case-se pensando em faze-la(o) a pessoa mais feliz do mundo. Faça um amigo por acha-lo interessante e querer contribuir com sua amizade. Cultive as amizades esperando doar-se e servir ao invés de ser servido. Honre ao invés de esperar ser honrado.

Quando alcançarmos tal nível de consistência em nosso jeito de ser, refletindo a imagem de Cristo, teremos alcançado não a felicidade crônica, mas, os momentos felizes que temperam a vida.

Thiago Mendanha
Fonte: Tomei a pilula vermelha

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