terça-feira, 12 de maio de 2009

CONSUMO, LOGO EXISTO



Ao visitar a admirável obra social do cantor Carlinhos Brown, no Candeal, em Salvador, ouvi-o contar que na infância, vivida ali na pobreza, ele não conheceu a fome. Havia sempre um pouco de farinha, feijão, frutas e hortaliças. “Quem trouxe a fome foi a geladeira”, disse. O eletrodoméstico impôs à família a necessidade do supérfluo: refrigerantes, sorvetes etc. A economia de mercado, centrada no lucro e não nos direitos da população, nos submete ao consumo de símbolos. O valor simbólico da mercadoria figura acima de sua utilidade.

Assim, a fome a que se refere Carlinhos Brown é inelutavelmente insaciável.

É próprio do humano - e nisso também nos diferenciamos dos animais - manipular o alimento que ingere. A refeição exige preparo, criatividade, e a cozinha é laboratório culinário, como a mesa é missa, no sentido litúrgico. A ingestão de alimentos por um gato ou cachorro é um atavismo desprovido de arte. Entre humanos, comer exige um mínimo de cerimônia: sentar à mesa coberta pela toalha, usar talheres, apresentar os pratos com esmero e, sobretudo, desfrutar da companhia de outros comensais. Trata-se de um ritual que possui rubricas indeléveis. Parece-me desumano comer de pé ou sozinho, retirando o alimento diretamente da panela.Marx já havia se dado conta do peso da geladeira. Nos “Manuscritos econômicos e filosóficos” (1844), ele constata que “o valor que cada um possui aos olhos do outro é o valor de seus respectivos bens. Portanto, em si o homem não tem valor para nós.”

O capitalismo de tal modo desumaniza que já não somos apenas consumidores, somos também consumidos. As mercadorias que me revestem e os bens simbólicos que me cercam é que determinam meu valor social. Desprovido ou despojado deles, perco o valor, condenado ao mundo ignaro da pobreza e à cultura da exclusão. Para o povo maori da Nova Zelândia cada coisa, e não apenas as pessoas, tem alma. Em comunidades tradicionais de África também se encontra essa interação matéria-espírito. Ora, se dizem a nós que um aborígene cultua uma árvore ou pedra, um totem ou ave, com certeza faremos um olhar de desdém. Mas quantos de nós não cultuam o próprio carro, um determinado vinho guardado na adega, uma jóia? Assim como um objeto se associa a seu dono nas comunidades tribais, na sociedade de consumo o mesmo ocorre sob a sofisticada égide da grife. Não se compra um vestido, compra-se um Gaultier; não se adquire um carro, e sim uma Ferrari; não se bebe um vinho, mas um Château Margaux. A roupa pode ser a mais horrorosa possível, porém se traz a assinatura de um famoso estilista a gata borralheira transforma-se em Cinderela. Somos consumidos pelas mercadorias na medida em que essa cultura neoliberal nos faz acreditar que delas emana uma energia que nos cobre como uma bendita unção, a de que pertencemos ao mundo dos eleitos, dos ricos, do poder.

Pois a avassaladora indústria do consumismo imprime aos objetos uma aura, um espírito, que nos transfigura quando neles tocamos. E se somos privados desse privilégio, o sentimento de exclusão causa frustração, depressão, infelicidade.Não importa que a pessoa seja imbecil. Revestida de objetos cobiçados, é alçada ao altar dos incensados pela inveja alheia. Ela se torna também objeto, confundida com seus apetrechos e tudo mais que carrega nela mas não é ela: bens, cifrões, cargos etc. Comércio deriva de “com mercê”, com troca.

Hoje as relações de consumo são desprovidas de troca, impessoais, não mais mediatizadas pelas pessoas. Outrora, a quitanda, o boteco, a mercearia, criavam vínculos entre o vendedor e o comprador, e também constituíam o espaço das relações de vizinhança, como ainda ocorre na feira.

Agora o supermercado suprime a presença humana. Lá está a gôndola abarrotada de produtos sedutoramente embalados. Ali, a frustração da falta de convívio é compensada pelo consumo supérfluo. “Nada poderia ser maior que a sedução” - diz Jean Baudrillard - “nem mesmo a ordem que a destrói.” E a sedução ganha seu supremo canal na compra pela internet. Sem sair da cadeira o consumidor faz chegar à sua casa todos os produtos que deseja.

Vou com freqüência a livrarias de shoppings. Ao passar diante das lojas e contemplar os veneráveis objetos de consumo, vendedores se acercam indagando se necessito algo. “Não, obrigado. Estou apenas fazendo um passeio socrático”, respondo. Olham-me intrigados. Então explico: Sócrates era um filósofo grego que viveu séculos antes de Cristo. Também gostava de passear pelas ruas comerciais de Atenas. E, assediado por vendedores como vocês, respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz”.

FREI BETTO

Fonte: Solomon 1

quinta-feira, 7 de maio de 2009

ESCUTATÓRIA



Sempre vejo anunciados cursos de oratória.

Nunca vi anunciado curso de escutatória.Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir.
Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular.

Escutar é complicado e sutil.Diz Alberto Caeiro que.. Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores.É preciso também não ter filosofia nenhuma.

Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas.Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.Parafraseio o Alberto Caeiro:Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito.É preciso também que haja silêncio dentro da alma.Daí a dificuldade:A gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor...Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.

Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração...E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade.
No fundo, somos os mais bonitos...
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64.
Contou-me de sua experiência com os índios: Reunidos os participantes, ninguém fala.Há um longo, longo silêncio.

Vejam a semelhança...Os pianistas, por exemplo, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio...Abrindo vazios de silêncio... Expulsando todas as idéias estranhas.Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala.Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio.Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos...Pensamentos que ele julgava essenciais.
São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.
Se eu falar logo a seguir...São duas as possibilidades.
Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza.
Na verdade, não ouvi o que você falou.Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala.
Falo como se você não tivesse falado.
Segunda: Ouvi o que você falou. Mas, isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo.É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.

Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada.O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou.

E, assim vai a reunião.Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos.
E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.Eu comecei a ouvir.Fernando Pessoa conhecia a experiência...E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras... No lugar onde não há palavras.

A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos.
Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia...Que de tão linda nos faz chorar.Para mim, Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio.

Daí a importância de saber ouvir os outros: A beleza mora lá também.Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.

Rubens Alves

Fonte: Absurdo e Graça

terça-feira, 5 de maio de 2009

"SOS" CHAMEM O MÉDICO!


Quando paro, logo penso: As pessoas são muito cômicas...!!!
Não bebo...ou talvez, (não posso beber, proibição em nome do AMOR)! Oh! Tamanha hipocrisia mental humana! Aí eu as vejo freqüentando os consultórios médicos, diagnostico: Câncer, Stress...(é o Trânsito, ops...não dirijo!!!...etc.), impotência...(é a dor de cabeça)!!! Hahahaha...e eu sou louca?
Resultado do exame: Fala Doutor...o que é? Vai lá meu irmão...Drogas Lícitas...opa! Feita pela indústria! Gardenal, dipirona, diazepam, etc.

“SOS” corpo humano pede ajuda!!! Mas vamos lá, vamos as Drogarias da vida...as drogarias (farmácia) , as Drogarias (Internação) as drogarias (Igrejas, com respeito a DEUS e meu JESUS), sim...a tantas DROGAS...mas são lícitas, eu tenho a RECEITA!
“SOS”...meu corpo pede socorro! Neurose humana! Vai se aí um sorrisinho cínico dizendo: Salvo!!! Mas o Doutor disse para ele, coitado: - Tudo é limpo para os limpos de coração!

Eu disse ao médico: Para os impuros...DROGARIAS da vida...Observação: (drogas lícitas) , morfina, endorfina, diazepam, apraz... – Doutor, cada um na sua, manda ver! Proibidos no físico, Dementes na alma! Opa, me desculpe, demência SADIA!! Isso mesmo, me desculpe, demência (legalizada)...Mas ele só teve vontade de subir no monte mais alto e gritar?! LOUCO!!! O taxaram.
Mas ele só teve vontade de tomar um vinho! Bêbado!!! O acusaram!!!
Mas ele só teve vontade de ficar em PAZ...DROGADO!!! Apedrejaram!!!
Mata-se o corpo com a língua! Mas esquecem!!! Que pena... Salvo! Todos estão salvos! Que lindo isso! Parece um conto de fadas! E eu amo muito tudo isso (MC donalds)!!! “SOS” mente humana!!! Cadê Jesus? Hã? Quem? Será que o conheço? Chamem o Médico, credenciado! CRM-São Paulo. Entendeu? Pegue mais uma receita, mas fique preso!!! Prenda-se no jogo da vida! Com colerinha e tudo mais viu? Hahaha…tem para todos os tamanhos, gostos, cor, raça, sexo.!!! Epa, tem para Raça humana? Tem Doutor?! Desculpe mas eu só os vejo usando tapa olho! Há sim...! A coleira é invisível! Hã...todos usam? Há... Eu desconfiava!
Opa Doutor…preciso ir…tenho que ir à DROGARIA que fica pertinho da minha casa…ela está em promoção! Vou me drogar...mas com uma dipirona, tô com uma tremenda dor de cabeça, foi, foi, foi,...sei lá o que foi!!! Só isso...talvez dependendo, compro um lexotan!!! É assim...mas ninguém me critica? Por quê? Há...tenho a receita Doutor! O meu médico credenciado “SOS” !!! -CRM-São Paulo!
Precisamos de ajuda aqui Doutor...Chamem o SAMU, UNIMED, MEDIAL, todas as incontáveis ambulâncias...!!! Chamem as DROGAS LÍCITAS da vida...isso conforta esse povo...Senhor...TEU povo!!!
Isso cala a boca para não nos acusarem de nada Doutor. Agente precisa disfarçar Doutor, pois eles são perfeitos, e eu não sou Doutor...nem meu esposo, nem meus filhos, Doutor. Mas EU confio em TI, mas infelizmente eles não entenderam, a mente está fechada demais. Que pena meu Doutor, vou dar o caminho para eles, posso? Quem sabe eles resolvam ligar e marcar uma consulta, e por favor Doutor..., abra a mente desse povo!
Endereço, consultório e etc..:
- Jesus Cristo.
“A confiança faz parte do nosso estado de espírito e ela nos faz alcançar nossos sonhos “Nos impulsiona!.”
Adriana Castilho