terça-feira, 1 de setembro de 2009

PERFEIÇÃO E PROTEÇÃO


“Os que acreditam em um Deus títere, que enlaçou cordões nos dedos para manipular o mundo, nem precisam dominar leis, basta ganhar o favor divino; quem conquista a simpatia celestial, vira preferido. “Deus fará qualquer coisa para deixar a vida dos seus filhos isenta de sobressaltos”, prometem. “E se por algum motivo acontecer imprevisto, basta orar com fé; Deus, que permitiu doença ou acidente, vingará seu nome com um livramento sobrenatural”.

Os sistemas religiosos monoteístas se fortalecem com esse discurso; discurso de quem conhece o segredo de agradar a Divindade. “Obedeça, cumpra, sacrifique, humilhe-se e seja bonzinho segundo a nossa prescrição e o Senhor lhe sorrirá; a sua vida vai aprumar-se”.

Israel tentou; seus líderes se revezaram para homogeneizar as ações do povo. Tudo era feito para escapar de exércitos poderosos, de epidemias que assolavam o mundo antigo, de gafanhotos na lavoura, de infertilidade feminina (os homens nunca eram responsabilizados quando as mulheres não engravidavam).

Porém, os esforços empacavam. Bastava um sair da risca para desabar a idéia da nação impecável. Abraão mentiu. Ló tomou um porre. Moisés, intempestivo, assassinou. Acã afanou o que não devia. A lista de personagens que jogaram na lata do lixo a possibilidade da recompensa por bom comportamento é longuíssima.

Buscar uma humanidade perfeita com o intuito de acabar com o sofrimento, não funciona. Homens e mulheres serão sempre sombras e luzes. Bem e mal, duas palavras que zunem como golpe de espada, também expressam a riqueza da virtude. Acabar com a ambiguidade, que mora na alma, aniquila a criatividade humana. A pedagogia que conduz à maturidade precisa acolher erro, deslizes, inadequação.

Deus não desejou criar gente absolutamente previsível, pateticamente conformada às suas leis. Ele criou para que aprendêssemos a trabalhar o vai-e-vem do coração; hora, doce, hora, amargo. Ele espera que descubramos, nas excursões para o interior da alma, a riqueza do eterno vir-a-ser.

Trecho do texto Perfeição e Proteção de Ricardo Gondim

Fonte Laion Monteiro

1 comentários:

s.rodrigues disse...

Perfeito!
Aceitar que somos bem e mal, acertamos mas também erramos, e diria mais, se nascemos mais propensos a viver de forma razoável,ou se nascemos para cometer apenas coisas más, depende muito mais do acaso, do que no mérito,o resto é consequencia. Se tivermos isso sempre em mente, aprenderemos a dominar em nós as coisas que não boas, por nos conhecer melhor.
Um abraço